quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

A indignidade das cotas!

Sou negra, estudei a vida inteira em escola pública, minha mãe é dona de casa e meu pai foi mecânico e motorista de ônibus. Ainda sou descendente direta de escravos (o pai do pai do meu avô). Estaria eu apta a entrar em uma universidade com cota???

Sim!!!!!!!!!!!

Felizmente... orgulhosamente, entrei na universidade sem a ajuda de um estado cretino que acha que eu e todos aqueles de minha cor são mais burros que a média dos brasileiros. Aliás, em 1977, quando cheguei ao primeiro ano de jardim de infância, as crianças não eram tratadas como retardados mentais. Desde cedo, ao invés de ficar fazendo desenhinho e "atividades lúdicas", o que quer que isso signifique, já estudávamos o alfabeto, fazíamos caligrafia (já reparou como muitos jovens de hoje tem letras horrorosas?), aprendíamos as primeiras palavras.

Em 1980, estudar em escola pública era o sonho de todos, inclusive dos ricos. Quando cheguei ao então ensino primário, ainda no período militar do governo Figueiredo, haviam programas especiais que atendiam crianças com necessidades especiais. Isso quer dizer que crianças com transtornos de aprendizagem ou doenças eram encaminhadas para classes especiais. Crianças consideradas super-dotadas eram enviadas para programas de aceleração de aprendizagem porque eram considerados os brasileiros do futuro, que seriam médicos, engenheiros e professores altamente classificados... e isso em pleno governo militar. Em Alagoas, meu estado natal, a derrocada da educação começou quando do processo de redemocratização do país, onde um certo collorido foi eleito governador e desgraçou o estado. Assim mesmo, continuei na luta, terminei o ensino fundamental, fui pra então para a então ETFAL e depois para a UFAL, onde fiz graduação, mestrado e doutorado. E tudo graças a base educacional que recebi lá naquele longinguo 1980.


Acabei esbarrando em reportagens do Terra e Uol, só pra citar alguns, que dizem que os cotistas tem desempenho melhor que os não cotistas em cursos de universidades Brasil afora.

Ora! Se o ensino médio é uma merda, como muitos fazem crer, esses cotistas de repente aprenderam a estudar????? Ficaram inteligentes???? Receberam todo o conhecimento do ensino médio por inspiração divina? Ou teriam sido abduzidos por aliens que implantaram neles o conhecimento infinito??? Alguém me explica como que esses alunos tão espetaculares não passariam em um vestibular tradicional?

Das duas uma: ou esssas notícias são "factóides" mentirosos do petralhismo de manchetes ou as cotas são uma desnecessidade. Sim, ninguém vai construir os conhecimentos de biologia e química que não teve, para pagar matérias de primeiro ano de um curso como o de medicina. Na minha matéria da área de química, certamente que não. Os alunos chegam sem saber que o carbono faz 4 ligações, o que é eletronegatividade, ligação hidrogênio ou como usar a tabela periódica (não vou nem falar dos nomes dos elementos químicos mais comuns). Isso não se aprende da noite para o dia... por mais que o estudante "valorize mais a vaga".

Supondo que estes alunos de fato estão se saindo bem, então as cotas SÃO DESNECESSÁRIAS e o ensino médio não é essa merda toda que mostra aquela bosta de ENADE né não? Aliás, falando nesse exame e agora? Como fica?

Esses alunos maravilhosos deveriam ser capazes de passar no vestibular sem precisar da ajuda de um estado cretino, que acha que pessoas como eu e tantos outros negros no Brasil precisamos da mão santa de "deus" para chegarmos ao lugar que deveria ser nosso DE DIREITO E POR MÉRITO!

Lembra da descrição acima? Pois é... conheço outra pessoa com uma descrição bem parecida e que, ele sim, deveria servir de exemplo para os negros e negras desse país! Filho de família simples e pobre, negro e matriculado em uma universidade 30 anos atrás? Alguém tem idéia dos preconceitos que este nobre cidadão brasileiro deve ter passado para chegar e terminar o curso de direito?

Seu nome: Joaquim Barbosa.


Nenhum comentário:

Postar um comentário