segunda-feira, 15 de maio de 2017

O movimento negro

Eu, na minha série de posts sobre o que me incomoda na discussão do racismo e negro na sociedade, quero dizer algumas palavras sobre o tal movimento negro.

Queria dizer que estou na linha descendente direta de negro liberto (pai do meu avô), com pai e mãe negros, com baixa instrução (4º ano primário) que sempre primaram pela educação dos filhos, por entender que só a educação tira as pessoas da miséria.

Vinte e cinco anos atrás, uma menina de 17 anos cheia de sonhos e ideologias de uma sociedade, fui do movimento negro.

Quer saber! Se o negro bem souber, não aceita essa representação. Sabe quando eu percebi que, no geral, o movimento negro tá pouco se lixando para o que de fato acontece com o negro?

Eu tinha entrado na Federal de Alagoas e na época, acompanhei o nascer da discussão sobre a política de cotas. Lembro de ter sugerido, na última reunião do grupo do qual eu participava, que o movimento deveria brigar para garantir que a educação pública funcionasse a contento, já que as estatísticas mostravam que a escola pública era de maioria negra.

Dessa forma, o negro seria instruído e teria o conhecimento para concorrer ao que ele bem quisesse na vida, desde as vagas na universidade, concursos públicos, etc, etc, etc, já que a vida não tem cota.

As pessoas me olharam como se eu tivesse sugerido o fim do mundo.

Eu passei no vestibular com nota suficiente para fazer um curso de medicina, na época, única e exclusivamente com o conhecimento que agreguei das escolas públicas onde estudei, que só fiz revisar junto com um grupo de colegas.

Não precisamos sequer das dicas de cursinho. Aliás, cursinho e seus macetes é coisa de gente burra.

Sorry, colega, mas se você não aprendeu nada naquela escola paga caréééééessima que papai pagou e precisou de cursinho...

Alguém já viu alguém do movimento negro falar e apoiar as greves das escolas públicas no Brasil? Pedir que a educação pública seja priorizada? Reunião do movimento negro com governadores para tratar da educação pública?

Pois é. Nem eu!

Pensei ali, e carrego comigo até hoje a mesma percepção de que o movimento negro não quer que o negro de fato saia da miséria.

Ora! Se o negro tiver conhecimento vasto, ele não precisará da ajudinha do Estado intrometido, mas melhor que isso, não precisará do próprio movimento negro.

Um negro com conhecimento deixa a periferia ou se mantém nela, mas serve como inspiração para que outros negros possam seguir o mesmo caminho.

Alguém acha que isso é bom para os caciques do movimento negro? Aqueles que viajam à Brasília, muitas vezes às custas do dinheiro público, para 'defender' a causa negra?

O movimento negro perde, portanto, a razão de existir.

Dando um exemplo. Em 2003, quando morava nos EUA para terminar um doutorado (com bolsa que consegui pelo mérito do meu trabalho, concorrendo com outro tanto de gente), lembro de ter visto um comercial da Mercedes, onde um negão num belo terno estava tentando escolher qual Mercedes comprar.

Fiquei olhando aquilo fascinada e pensando que queria fazer a mesma coisa. Foi uma inspiração para ser mais e melhor.

E hoje em dia? Quais são as inspirações que nossas crianças negras tem? Porque o movimento negro exalta coisas como funk na periferia (e tudo que vem associado a ele), mas não faz o mesmo com um Machado de Assis ou um Joaquim Barbosa, o primeiro negro membro do STF, e mais ainda, presidente daquele tribunal?

Porque o movimento negro silenciou quando Joaquim Barbosa foi atacado por sua cor durante o julgamento do mensalão?

Fica parecendo que o negro é muito bom para tocar repique ou escrever aquelas músicas horrorosas com apologia a tudo o que não presta, mas não tem capacidade e talento próprios para ser um escritor ou advogado.

Mistérios né?!

Talvez, para que os negros não façam exatamente as mesmas indagações que faço, não é mesmo?

Me diga uma coisa que esse movimento negro conseguiu para que o negro de fato ocupe seu lugar de destaque na sociedade, não como um coitadinho preguiçoso que precisa de ajudinha, mas como uma pessoa... e uma pessoa competente e capaz?

Bom. Pelo menos o negro que tem deficiência no assunto terá uma mãozinha para entrar na universidade. Se formará, mas como continuará deficiente em conhecimento, ainda que tenha cursado a mesmíssima universidade que os não cotistas, terá outra mãozinha para passar no concurso público ou ser empregado em uma empresa.

Falta só os 20% de cota no céu né! Do jeito que vai, o movimento negro ainda vai propor isso!

😀😀😀😀😀😀😀😀

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